José Theotónio: Pestana pode não abir hoteis, este Verão, por falta de recursos humanos

Segundo o gestor, o grupo tem vantagens para os seus funcionários acima do mercado, como seguro de saúde.

Questionado sobre se há risco de haver hotéis que têm de fechar por falta de pessoal, José Theotónio afirmou que pode acontecer, dando como exemplo que a Pousada de Estremoz esteve fechada até início deste ano por não existirem empregados suficientes.

Os trabalhadores do Grupo Pestana são quase todos portugueses, afirmou ainda o responsável, referindo que os acordos de facilitação de trabalhadores para a hotelaria originários de países dos PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa), Índia ou Nepal foram falados, mas "até hoje não chegaram ao terreno".

Segundo o Presidente Executivo, um dos problemas na falta de trabalhadores para hotelaria nacional também se deve ao sistema de ensino. Ou seja ao pouco valor que se dá ao ensino profissional, com impacto no recrutamento de funcionários para o sector.

O Grupo Pestana divulgou hoje que obteve lucros de 23 milhões de euros em 2021, face a prejuízos de 32 milhões em 2020, disse o dirigente, acrescentando que 2022 pode já chegar aos valores de 2019 apesar das "nuvens negras" que persistem, desde logo a guerra na Europa.

Apesar das dificuldades, o grupo manteve no ano passado a construção dos nove hotéis que tinha arrancado em 2020. Chegou mesmo a inaugurar o centésimo hotel da marca Pestana em Fevereiro de 2020, para o manter aberto durante 39 dias. “Não tínhamos pressa em abrir, porque não havia mercado. Mas não abandonámos nenhum”. Hoje, estão todos abertos, após um investimento de 124 milhões de euros. Lisboa passou a ter mais um e mais dois no Porto dois. Abriu ainda a pousada de Vila Real de Santo António e o Fisherman, na Madeira.

Quanto a novos hotéis, em 2022 já foram abertos os que estavam previstos abrir em 2022, o Pestana Douro e Pestana CR7, em Marraquexe, podendo ainda abrir a unidade que está em construção em Lisboa, nas Portas do Sol, no entanto será só no final do ano.

Os outros hotéis em construção ou projecto não serão para abrir este ano, caso do hotel em construção na Rua Augusta, em Lisboa. O grupo tem ainda projectos para novos hotéis nas ilhas de Porto Santo e Madeira (na Praia Formosa, no Funchal) e um Pestana CR7 em Paris (França). Está ainda um hotel em construção nos Estados Unidos, em Newark, mas que é um investimento de uma família luso-americana (família Seabra) e ao Pestana caberá a gestão.

Sobre vendas de hotéis, José Theotónio disse que não têm alienações planeadas.

No entanto sobre a recente venda ao fundo espanhol Azora do Pestana Blue Alvor, José Theotónio disse que a proposta tinha um preço que não podiam recusar, mas não quis divulgar o valor. O jornal 'online' Eco noticiou que a aquisição terá ficado entre 75 e 80 milhões de euros.

Em relação ao comentário de Marcelo Rebelo de Sousa, sobre Portugal ser "um refúgio", o responsável sublinhou: “Custa-nos pensar que a guerra nos favorece ou que vai ser um factor de crescimento. Pode favorecer-nos no curto prazo, mas havendo perda de confiança no consumo, a confiança vai-se abalando".

Além da principal actividade, a hoteleira, o Grupo Pestana também tem a´rede imobiliária (de construção e comercialização de empreendimentos), tendo referido o responsável que foi essa área de negócio a "boia de salvação em 2020" e que em 2021 representou 40% do grupo. Com a normalização do turismo, o objectivo do grupo é que a operação imobiliária tenha um peso de 20% a 30%.

O gestor afirmou que foi um "êxito" a comercialização dos empreendimentos em Tróia, Comporta e Brejos da Carregueira (ainda em construção), pois estão totalmente vendidos, e que também o projecto dos Açores foi todo vendido em 2021. Estão atualmente em comercialização os projetos de Porto Covo (Alentejo), Madeira e Algarve.

José Theotónio revelou ainda que o grupo se candidatou às agendas mobilizadoras do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) com quatro projectos, avaliados em 24 milhões de euros. Dois são no âmbito da transformação digital e da melhoria das redes de wifi do grupo, avaliados em quatro milhões de euros. Os maiores, que totalizam 20 milhões, dizem respeito à instalação de carregadores elétricos e à alteração das fontes de energia do grupo para origens mais limpas, como painéis solares.

Com 50 anos de actividade, o Grupo Pestana detém e gere mais de uma centena de hotéis em 16 países. Em unidades hoteleiras, opera com quatro marcas, que são Pestana Hotels & Resorts, Pestana Collection Hotels, Pestana Pousadas de Portugal e Pestana CR7 Lifestyle Hotels. No total, tem mais de 12.000 quartos disponíveis na Europa, África e América.