Cortejo dos Estudantes em Angra

por:
Cortejo dos Estudantes em AngraO Cortejo dos Estudantes percorre as ruas de Angra do Heroísmo no domingo de Carnaval desde 1932, mas só em 1949 passou a incluir mulheres, graças à ‘ousadia’ de Armanda Lourenço que acabou com a hegemonia masculina.
“Vesti-me de espanhola e atirei-me para dentro do cortejo, inaugurando a era da participação feminina”, recordou, com orgulho evidente, em declarações à Lusa.
Seis décadas depois de ter aberto o cortejo à participação feminina, Armanda Lourenço admitiu que sempre foi “Maria rapaz”, o que não era fácil numa altura em que “as senhoras eram donas de casa e saíam apenas para se juntar a fazer croché, renda frioleira ou jogar à sueca”.
Agora, com 74 anos, esta mulher formada em Germânicas na Universidade de Coimbra reconhece que a sua atitude no Carnaval de 1949 marcou uma juventude irrequieta, recordando que a ideia nasceu um ano antes.
“No ano anterior, algumas raparigas vestiram-se de espanholas para se mostrarem na praça de touros. Foi nessa altura que questionei por que razão não podia participar no desfile”, afirmou.
O Cortejo dos Estudantes começou a ser realizado em 1932 e mantém-se até hoje, pelo que no domingo os jovens voltam a percorrer as ruas do centro de Angra do Heroísmo até à praça de touros, onde todos assistem a uma tourada.
O desfile tem, no entanto, diferenças substanciais relativamente ao que acontecia há algumas décadas, especialmente por culpa do ‘arranhão’, uma bebida alcoólica cuja composição permanece em segredo.
“No meu tempo não havia bebidas de qualquer espécie, não se diziam asneiras, era tudo mais ordeiro e disciplinado, tal como a filosofia de vida naquela época que, ao contrário do que se pensa, até nem era demasiado opressiva”, recordou Armanda Lourenço.
O facto de ter estudado num colégio particular “com turmas mistas desde a instrução primária”, ao contrário do que acontecia no continente e no resto do arquipélago, teve influência na sua infância, onde não faltou a bicicleta, na altura um brinquedo ‘masculino’.
Nas suas mãos, a bicicleta servia para “voar de um lado para o outro, até estragar as calças de um fato novo por as ter enfiado na corrente da roda pedaleira”, tal como acontecia com os rapazes.
A curiosidade pelas coisas mecânicas, que a levou a descobrir a fotografia, foi outra das marcas da juventude de Armanda Lourenço, numa época em que o mundo também lhe chegava através dos amigos americanos que se encontravam na Base das Lajes e que, mesmo depois de regressarem aos EUA, “não se esqueciam da miúda irrequieta e mandavam novidades”.
Em Angra do Heroísmo, nessa altura, “as notícias chegavam pela BBC, num rádio público que havia no Pátio da Alfândega”, mas também lia o jornal que lhe enviava um tio de Lisboa.
Armanda Lourenço, além de ter ‘inaugurado’ a era feminina no Cortejo dos Estudantes, foi também a primeira professora a utilizar um retroprojector nas aulas, numa procura da modernidade que ainda hoje mantém ao impor a si própria o desafio de ‘dominar’ o computador.
(ES)

Mídia

NULL

RIU Hotels & Resorts

Amsterdam City Card

Etihad Airways